Uma das faces mais visíveis da revolução tecnológica por que passa o mundo do áudio e da música são as placas de multimídia, como o padrão SoundBlaster. Acessíveis, essas plaquinhas desempenham diversas funções: funcionam como entradas e saídas de som, têm uma conexão de joystick para jogos, uma conexão MIDI de entrada e de saída para teclados, amplificam o CD-Audio tocado no drive de CD-ROM e ainda tocam arquivos MIDI num sintetizador FM embutido. Contudo, devido ao baixo custo das placas de multimídia, os conversores A/D (analógico/digital) e D/A (digital/analógico) não são exatamente os melhores do mercado. Respectivamente na entrada e na saída de áudio das placas, esses conversores são os responsáveis pela qualidade do som que entra e sai do computador. Da mesma forma, e até em especial, os sintetizadores das placas de multimídia não são o que há de melhor por aí.
Um dos passatempos da garotada na internet é baixar e trocar arquivos MIDI (.mid) com músicas conhecidas seqüenciadas. São arquivos leves, rápidos de baixar, e existem aos milhões, com todo tipo de música, covers de sucessos seqüenciados por músicos do mundo todo. Como a qualidade sonora dessas placas deixa a desejar, especialmente dos seus sintetizadores, ela causa nos leigos a impressão de que os arquivos MIDI é que são ruins.
Sabemos que o protocolo MIDI é, na verdade, uma ferramenta usada pelos músicos para editar sua execução dos instrumentos eletrônicos e organizar arranjos musicais com diversas partes tocadas nesses instrumentos. Em resumo, uma ferramenta de composição, arranjo e produção musical. Tem outras utilidades, como a edição de partituras e a sincronização de gravadores e mesas automáticas, mas o seqüenciamento dos arranjos é a sua função mais abrangente. Sem realmente gravar o som dos instrumentos, o seqüenciador MIDI registra tudo o que o músico toca e depois é o próprio seqüenciador que “toca” os instrumentos. O seqüenciador pode então executar a mesma música ou seqüência MIDI em qualquer outro instrumento MIDI. Neste caso, o som que ouvimos é o do novo instrumento, já que o seqüenciador não registrou o timbre, por assim dizer, mas as notas tocadas.
Se a música seqüenciada for executada no sintetizador de uma SoundBlaster, terá o som de uma SoundBlaster. A mesma seqüência MIDI executada num sampler ou sintetizador de primeira linha terá uma qualidade sonora muitas vezes superior.
Todo músico experiente sabe que o problema não está na tecnologia MIDI. A qualidade do som é do gerador de som, do sintetizador utilizado. Se usarmos um sampler Akai S6000, E-Mu Emulator 4 ou Yamaha A5000 ou mesmo sintetizadores como Korg Triton, Roland XV-5080 ou Fantom ou o Yamaha Motif ouviremos os melhores sons que a tecnologia poderia nos proporcionar. Mas, com uma placa de multimídia dessas bem baratinhas ou on board, é até natural que a qualidade dos sons gerados por seus mini-sintetizadores embutidos seja sofrível.
Com a popularidade dos arquivos MIDI na internet, alguns até muito bem feitinhos e outros de gosto duvidoso, geralmente ouvidos através de placas de multimídia, muitos jovens músicos se iniciam nas artes da produção musical com um conceito totalmente equivocado. Põem a culpa da má qualidade na tecnologia MIDI, descartando o seu uso no estúdio e perdendo a chance de usar uma utilíssima ferramenta que, muitas vezes, responde por mais de cinqüenta por cento dos recursos usados numa gravação.
Sem o uso do protocolo MIDI, seu estúdio vai ficar na mão quando o cliente encomendar aquele arranjo de cordas, não uma “cama” qualquer, mas uma orquestração mais elaborada, ou um estilo ou uma sonoridade de bateria que o seu baterista não tem. É claro que sempre podemos gravar direto o áudio dos teclados, mas com esta atitude nos privamos de editar todo o aspecto musical deste registro.
Se seqüenciarmos os teclados antes de gravar, temos a chance de fazer as duas edições - o processamento musical e o processamento do áudio. Primeiro, tocamos um instrumento controlador MIDI como o teclado e registramos esta execução como uma pista MIDI no seqüenciador. Em seguida, eliminamos as notas “esbarradas”, aquelas tocadas por engano, tornamos os toques ritmicamente mais precisos com a quantização e ajustamos diversos outros aspectos da performance musical, inclusive mudanças de andamento, tonalidade, dinâmica, duração e timbre sem prejudicar a qualidade dos sons. Depois, gravamos uma outra pista com o áudio desse instrumento. O seqüenciador toca a pista MIDI do sintetizador e grava uma pista de áudio com o som desse mesmo instrumento, mandando comandos MIDI pela interface MIDI do computador para “tocar” o sintetizador e recebendo o som que sai do sintetizador e entra no computador pela interface de áudio. Finalmente, descartamos a pista MIDI e editamos a pista com o áudio, com direito ao uso de todos os plug-ins para limpeza de ruídos, compressão dinâmica, equalização dos timbres e adição de efeitos. As pistas dos instrumentos eletrônicos agora estão impecáveis, prontas para serem mixadas com as vozes e os instrumentos acústicos e elétricos.
Bem tocadas e bem editadas, as pistas MIDI soam autênticas e naturais, lado a lado com os instrumentos gravados e as vozes.
Na música eletrônica, muitos sons e ritmos são gerados inicialmente a partir de instrumentos MIDI, as matrizes sampleadas de grande parte dos loops de audio seqüenciados em programas como o Acid, o Fruity Loops e o Sonar.
A base da música eletrônica é o sampler e o sampler é um instrumento MIDI por excelência. O seqüenciador registra e organiza tudo o que tocamos nos samplers e nos sintetizadores. Os sons e loops para samplers oferecidos nos CDs de áudio ou de dados pelas fábricas de sons como a Big Fish Audio, a Bigga Giggas, a East West, a Groove Doctors, a Ilio, a Pro-Rec, a Q Up, a Sampleheads, a Spectrasonics e muitas outras, incluindo os fabricantes dos próprios samplers, são da mais alta qualidade, de nível internacional. São usados pelos produtores musicais das grandes gravadoras para artistas e grupos de todos os gêneros, como também pelos criadores de música para cinema, TV, multimídia, compositores eruditos e produtores de todas as formas de música eletrônica.
Os componentes fundamentais do estúdio MIDI são três: o controlador, o seqüenciador e o gerador de som. O controlador é o teclado ou a guitarra MIDI que o músico efetivamente toca. Podemos adicionar as notas até com o mouse e o teclado do computador, mas também temos violinos MIDI da Zeta, saxofones MIDI da Yamaha e captadores/conversores MIDI da Roland para a sua guitarra. Cada músico usa os controladores mais adequados à sua técnica instrumental.
O seqüenciador é o “gravador” das informações MIDI. Ele registra o que é tocado, edita e executa o material no gerador de som. Podemos usar os seqüenciadores físicos, as groove boxes e as baterias eletrônicas. Os programas de computador são mais confortáveis e completos e menos portáteis. O Cakewalk Sonar, o Steinberg Cubase, o Logic e o Digital Performer são os mais usados.
O gerador de som é o sintetizador ou o sampler. É o próprio som do sistema MIDI. Além de todos os modelos já citados, em forma de teclados ou racks, contamos hoje em dia com excelentes programas sintetizadores e samplers virtuais. Com uma placa de som de qualidade, dispomos do GigaSampler ou do GigaStudio da Tascam/Nemesys e de inúmeros sintetizadores que, efetivamente, transformam nossos computadores em estúdios completos.
O estúdio MIDI pode, ainda, ser todo concentrado num teclado do tipo workstation. Essas estações de trabalho agregam teclado, seqüenciador e sintetizador/sampler/bateria numa única peça de hardware. O Roland XP-80, o Korg Triton e o Kurzweil K2600 são exemplos desses teclados três-em-um.
Um programa que traz este conceito de workstation MIDI para o computador, contendo seqüenciador, sintetizadores, samplers e baterias, além dos efeitos, mas sem perder o conceito do hardware, com conexões de cabos e toda a cultura dos racks de teclados e mesas de som é o Reason, da Propellerheads. É um programa que leva, definitivamente, o estúdio MIDI para dentro do computador.
E ainda tem quem pense que MIDI é brinquedo. Não é brinquedo, não!
fonte:http://www.homestudio.com.br
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